11 outubro 2006

Viagem Efémera (Set 95)












(foto olhares.com)


Era um fim de tarde cinzento,

onde bailava uma brisa muito ténue.

Ténue como o canto de um rouxinol;

O rouxinol parou de cantar.

E foi então, ouvindo o nada que ficou, que aspirei ser tudo:

quis espraiar-me pela natureza e ser árvore e ser sol

e ser ave dourada sob o resquício do Verão...

Voei. Voei e perdi-me na lembrança desse sonho.

Perdi-me na vontade súbita de ser algo num sítio qualquer...

Perdi-me na emocionante ideia de ser

presa e predador, fogo e orvalho;

de ser o relâmpago que fulmina a árvore mais antiga;

de ser a água turbulenta que abraça barcos, pescadores e casas;

na emocionante ideia de ser as intempéries que devoram o porto ancestral;

O rouxinol cantou.

Canta agora o doce canto das fadas denunciando a magia que paira no ar.

E lá vai Um, e Dois, Três duendes a dançar.

E eis que desaparece o Um,

e cai o Dois

e foge o Três, no seu cavalo branco a voar!

Sonhei um belo dia a doçura suave da tenra folha de plátano,

que flutua pelos ares outonais, até ir ternamente acariciar a relva côr-de- ouro...

Sonhei, voei, vivi...