A algumas mulheres...
(Foto olhares.com)
Na esquina do costume,
Jaz aquela mesma mulher, a mesma de sempre, vendo passar a vida.
Uma vida suspensa no tempo,
Uma vida que é tão-somente o prenúncio da morte.
É na esquina do costume que, noite após noite, ela espera.
Com o olhar distante,
Espera que o sonho de menina estrangule aquele horror gélido,
Um horror permanente, latente, que a assola em todas as eternas madrugadas,
Um horror que ela mascara com o seu pálido sorriso.
Raiva. Asco.
Um amor-próprio perdido para sempre.
Contra o candeeiro do costume,
A mente ausente, ela encosta o seu corpo inerte.
Vai pensando no homem que apenas satisfaz o vício,
Ou no homem que em vão tenta iludir a ânsia por afecto,
Vai lembrando toda essa gente perdida, sem alma,
Que entra em si sem pedir licença e lhe deixa um travo amargo a solidão.
As pernas fraquejam e sente-se fora de si, exausta.
De repente é como se voltasse a ser menina e a ter medo,
Mas não há cama, nem canto do quarto onde se esconder…
Há apenas aquele velho candeeiro, que noite após noite a ampara,
Quase lhe trazendo aquele outro conforto esquecido.
Um tremor nostálgico trespassa-a.
Uma saudade vadia frustra-lhe os movimentos.
Quis fugir, mas já não é capaz.
A velha mulher do costume, já não é a mesma de sempre,
Já não é sequer dona de si.
Ela já não sente… já não sonha… já não vive.