20 setembro 2010


Não sei exatamente em que ponto da minha vida decidi não deixar ninguém se aproximar. Foi como se começasse por colocar uma cerca á minha volta que depressa se transformou num muro... intransponível! Parece que a opção, ainda que não intencional, foi não me deixar encantar por ninguém. Não sei como, mas foi isto que aconteceu. E quando tento perceber melhor a coisa, nem assim consigo saber por que motivo isto aconteceu.

Olhando à distância de 2 ou 3 anos, parece que estabeleci um qualquer ideal amoroso. Esse ideal afigura-se-me indefinível, e arriscaria dizer, especialmente para mim mesma. Então qual poderá ser o propósito de um ideal oculto até para a pessoa que o tem para si? Bom, parece-me lógico: fui vítima de um embuste! E esse vil Ideal só serviu para manter o meu coração desmaiado, não deixando que nada lá se passasse. Não é facilmente que se chega à conclusão que nós somos o nosso próprio empecilho. Já não bastando as dificuldades naturais da vida, nós próprios sabotamos qualquer episódio romântico! E logo eu que sempre fui "apaixonada" pelo Amor... Bom, mas finalmente consegui enxergar! E consegui enxergar porque algo me obrigou. Ou melhor, alguém me obrigou!

E é aqui, que ele entra: esse alguém. Do nada. Sem aviso prévio de que ia fazer me sair da minha zona de conforto. Apareceu na minha vida, airoso. Insistente, com um sentido de humor juvenil. Atento. Perspicaz. Aparentemente muito interessado, mas muito ausente. Enigmático. Meio problemático. Uma pessoa desconcertantemente complicada de se perceber.

Tentei contornar a situação. Tentei não me deixar levar. Então, sem que eu o previsse, a minha cerca abanou e o muro ruiu. E ele fez-me sentir um turbilhão de sensações e de emoções. Fez-me sentir alegria esfuziante e um entusiasmo latente. Fez-me sorrir de manhã à noite e sussurrar o seu nome com deleite. Fez-me sentir uma vontade estrondosa de sentir o toque da sua pele, a sua boca. Fez-me sentir vontade de lhe dizer que tenho saudades, que me faz falta, que quero estar com ele. E talvez por tudo isto, também me fez sentir insegura e sem saber o que pensar ou fazer. Fez-me sentir que estava a ser pateta por estar a tentar bloquear tudo isto. Por não dizer nada do que estava a sentir. Por não descer do meu pedestal de orgulho e me mostrar tal e qual como sou: genuína, meiga, carinhosa, apaixonada.

Então disse-o. Disse-o com toda a convicção do mundo. E agora sinto-me como uma trapezista sem rede, exposta, frágil, em perigo de queda. Mas ao mesmo tempo, sinto-me a recuperar da letargia em que flutuou o meu coração nos últimos anos.
Sinto que patetice é realmente não viver a vida em pleno, com todos os riscos que isso implica e não sermos ridículos por causa do amor. Porque o amor é ridículo, já dizia o maravilhoso Fernando Pessoa, e é também espinha dorsal da vida: é ele que liberta, que preenche, que apazigua a alma. É ele que nos faz ser mais tolerantes e bondosos. É ele que nos faz permanecer num misto de êxtase histérico de felicidade. É é ele que nos faz sentir imortais.